sábado, 16 de outubro de 2010

O DÍZIMO - A VACA MAIS SAGRADA DA "IGREJA EVANGÉLICA" ATUAL

Fiz uma pergunta num dos últimos posts que creio não ter respondido satisfatoriamente: "E se estivermos sendo ensinados a crer em questões irrelevantes como sendo essenciais?" 
Ninguém que já tenha freqüentado a "igreja" evangélica atual pode dizer que o dízimo não ocupa um lugar dentro da vida eclesiástica que se possa chamar de outra palavra que não essencial. Podem bater o pé e reclamar e dar muitas voltas no tema, mas A VERDADE nua e crua é que "dizimar" e ofertar são duas pedras de toque dentro das doutrinas e dogmas ensinados nas "igrejas" para tornar um neófito (um novo convertido)num cristão "maduro" e "fiel". 

"Dogmas" dentro da "igreja evangélica"? Mas o que é um dogma de fé? Dogma é uma crença, um ponto de vista imposto por alguém ou uma instituição que não admite contestação, pois foi elevado ao nível de verdade revelada. Um dogma se fecha sobre si mesmo e encerra qualquer discussão. Ponto final.C'est fini. Aqueles que querem ser parte de determinada comunidade que advoga uma crença dogmática terão de aceitar o pacote todo e não recusar os bombons que porventura sejam amargosos ou de sabor exótico demais sob pena de ser excluído ou isolado dos demais membros.O dogma deve estar descrito em algum código de conduta ou diretriz comunal para que seja devidamente fundamentado. 

Dentro do meio evangélico, porém, não se costuma usar tal palavra, pois ela ficou conhecida e passou a caracterizar algumas posições que a Igreja Católica Romana adotou historicamente para acabar com divergencias dentro da instituição e estabelecer alguns ensinos que os distinguissem dos  "hereges". Assim, o Estado do Vaticano e seu presidente (pois se trata de um chefe de Estado), pronunciando-se de sua cadeira "apostólica", emitiu ao longo dos tempos vários Dogmas de Fé que delimitam EM QUÊ na verdade, a Igreja Romana crê. Muitos dos dogmas adotados pelo catolicismo romano claramente não possuem respaldo bíblico. O dogma da Assunção de Maria, por exemplo, declarado em 1950, é apoiado somente por textos apócrifos e relatos tardios ligados a tal Tradição Apostólica. Coisa igual acontece com o dogma da Imaculada Conceição de Maria. Concorde você ou não com eles, sendo um católico romano, terá que se submeter a eles e aceita-los como dignos de sua fé. Como me disse o sr. Angueth em seu blog: "Todo católico aceita todos os dogmas da Igreja, ou não é católico. Só há salvação na Igreja Católica é um dos muitos dogmas que aceitamos alegremente, agradecidamente, humildemente, de todo o coração. Como o é também o da infalibilidade papal". Então, o entendimento que temos da palavra "dogma" está ligado à decisões extrabíblicas de dirigentes das instituições romanas. É nesse sentido que quero usar a palavra aqui. Será que temos entre o povo que declara "seguir unicamente a Bíblia como única regra de fé e prática" algum ensino empurrado goela abaixo do rebanho como "revelação" da vontade de DEUS, mas que, se investigado a fundo, revela-se uma sagaz artimanha humana para se perpetuar como "interlocutor da voz de DEUS", como as descritas acima? Será que possuímos algo como uma "vaca sagrada" intocável em nosso arraial?


Há duas atitudes a considerar, a saber: podemos aceitar a prática do dízimo entre cristãos como um dogma e fechar a discussão sobre o assunto com medo de nos tornarmos heréticos...Ou podemos tentar expandir nossos conceitos e tentar fundamentar se há algo obscuro e pouco declarado acerca dessa prática apenas para que A VERDADE tão amada seja favorecida em nosso meio. Aqueles que são da Luz não devem temer serem expostos a menos que temam que o rebanho fique mais esclarecido, maduro e edificado na VERDADE. Se você é do segundo time e não é dogmático e aprendeu a lição dos bereanos em Atos 17.11 ( "Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim") não terá problemas em prosseguir e reter algo que for bom, não  é mesmo?

A meu ver, poucos refletem realmente se realmente o dízimo, como outras práticas atuais, são realmente essenciais ao cristianismo. Creio que a maioria acata aquilo que já vem sendo praticado há um bom tempo sem parar um minuto para refletir. Os reformadores protestantes como Lutero e Calvino restauraram alguns fundamentos importantes, mas deixaram outros intocados. Mais tarde, outros vieram e levaram mais adiante as reformas. Não se pode dizer que o resultado foi sempre aceitável pelo número de divisões que temos hoje. Mas o espírito correto deve levar sempre o cristão a procurar o essencial, o melhor, o mais edificante e isso sempre nos leva ao ensino dos apóstolos. A Reforma nasceu do desejo de homens que gostariam de voltar a viver a simplicidade do cristianismo dos primeiros dias. Essa busca pelos fundamentos apostólicos não pode ser abandonada porque eles, sim, os apóstolos, aprenderam a se guiar pelo essencial,  saindo de uma religião normativa para a liberdade escandalosa da Graça. Penso que muitos de nós estão acomodados achando que já chegamos a esse nível quando o quadro que vejo o meu redor é bem diferente. Vejo fundamentos falsos, ensino de heresias, reformas falsas, nicolaísmo, obras mortas e distração sem fim no meio cristão. Devemos avançar naquilo que foi o ideal de tantos homens que procuraram estabelecer o que é verdadeiro e duradouro e não nos intimidar se isso desagradar a maioria. Devemos avançar até que não haja mais nada além do fundamento dos apóstolos e profetas do N.T., o qual não é outro senão JESUS CRISTO.

Pois bem, antes de mais nada, gostaria de dizer que o dízimo realmente É bíblico. "Ué? Se é bíblico isso não encerra a discussão?" Não, não encerra e por um simples motivo: o dízimo é bíblico, sim, mas NÃO É CRISTÃO! Parece confuso mas logo tudo ficará claro. Vamos começar com o verso chave de toda questão: Malaquias 3.8 a 11

"8  Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas.
 9  Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda
10  Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida;
11  Por vossa causa, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos."

Quem não está cansado de ouvir essa passagem vinda do púlpito no popular "momento de dízimos e ofertas" de todo domingão? Quem não se sente intimidado, constrangido a dar tudo que tem ou ameaçado de sair da congregação amaldiçoado por ela? "Ai, meu DEUS!!!O devorador não, por favor!Eu juro que serei bonzinho mês que vem!" Ou há mesmo aqueles que se sentirão justificados pelo texto por serem "dizimistas fiéis" : "Heheh...Devorador que nada. Eu já me garanti. Sou fiel e DEUS vai dar cem vezes mais porque eu provo Ele mesmo."

Essa passagem é um achado para aqueles que adoram criar doutrina em cima de alguns versículos e para aqueles que não aprenderam a ministrar sem usar de uma boa dose de manipulação psicológica.

Mas vamos logo ao centro da questão com um pouco de História. 

DÍZIMOS, OFERTAS E O IMPOSTO DO TEMPLO - A história narrada no "Velho Testamento", conta como DEUS formou uma nação soberana a partir de uma família separada para tal. Os hebreus, por obra de DEUS, se multiplicaram tanto no Egito a ponto de se tornarem um perigo para a dinastia reinante que temia que eles viessem tomar o poder algum dia. Essa nação, liberta enfim, da escravidão, ganhou a independencia e se pôs rumo a seu destino soberano como povo. Nenhum povo, porém, vive sem uma lei que regule as questões politicas e sociais. A Lei, a Torah, foi dada então a esse povo como sua Constituição. Uma Constituição serve para trazer ordem e garantir justiça aos mais amplos aspectos da vida cotidiana. Acontece que, sendo Israel um estado teocrático, não havia separação entre lei civil e lei religiosa como vemos hoje nas modernas sociedades. Todas as normas, punições e julgamentos estavam intimamente ligadas a vida religiosa, sendo seus árbitros e executores os sacerdotes versados nessa lei divina. Mas, obviamente, a Lei judaica vai muito além no quesito moral do que qualquer outra legislação antiga. Há prescrições expressas para que se faça justiça ao orfão, à viúva e ao estrangeiro que peregrina por ali, algo inédito até então.Ela não é apenas um rígido código de leis e punições, de direitos e deveres. Nela, está inserida a Lei do Amor da qual falou JESUS ao resumir os mandamentos em "Amar a DEUS sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo". 

Então, temos um povo com uma Constituição, outorgada por DEUS (embora eu tenha o palpite de que Moisés não tenha ficado apenas assobiando no alto do Sinai, senão, porque DEUS o enviaria à corte de Faraó para aprender como se faz um povo "civilizado"? As leis civis dos egípcios e seus códigos são muito parecidas com a maioria dos povos antigos, inclusive a dos judeus), com leis que estimulam o bem viver e delimita direitos e deveres dos seus cidadãos, além de revelar o ÚNICO DEUS VERDADEIRO e como Ele quer viver entre os judeus. Como todo estado que se preze, além de estabelecer leis e designar funções para seus membros, é necessário que sejam criados...impostos. Talvez não haja palavrinha mais chata, mas os impostos estão aí desde que o mundo é mundo. E não foi diferente com Israel.

Israel ao adentrar Canaã, era uma comunidade agrária como todas as outras da época. Quase não havia comércio. A grande maioria das pessoas ou se dedicava a plantar para o próprio sustento ou criava gado com o mesmo propósito.Supõe-se que o escambo, ou permuta comercialpredominava. Não havia moedas cunhadas na época. As transações comerciais mais avançadas eram feitas com metal precioso, ouro ou prata. Moedas de uso comercial só começaram a se difundir tardiamente por Israel, crê-se que após o exílio babilônico. Cabe a  Simão Macabeu o "privilégio" de ter cunhado as primeiras moedas israelitas com sua própria efigie por volta de 141 a.C. Se tornaram "populares" por causa da dominação estrangeira de babilônios, dos gregos e romanos posteriormente. 

Assim vemos que quando se fala em dízimos no A.T., todas as passagens dizem o óbvio: não estamos falando de uma soma em dinheiro, mas em espécie, que DEUS ordena através da Lei ser recolhida para que "haja alimento" em Sua Casa.

Num. 18.21: 21 - Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam, serviço da tenda da congregação.
 DEut 14.28 e 29 - Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua cidade.Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem.
Deut 26.12- Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que comam dentro das tuas cidades e se fartem.
Deut. 10 a 11 - Alegrar-te-ás por todo o bem que o SENHOR, teu Deus, te tem dado a ti e a tua casa, tu, e o levita, e o estrangeiro que está no meio de ti.

Levítico 27.30 a 32 -Também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR.No tocante às dízimas do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo do bordão do pastor, o dízimo será santo ao SENHOR. 

Os grãos estocados na "tesouraria serviriam como estoque regulador e abasteceriam o necessitado e aos levitas, dedicados ao sacerdócio em tempo integral. É um princípio salutar de distribuição de riquezas a fim de evitar a miséria e a fome no meio de um povo que deveria praticar a misericórdia com seus irmãos. Não era, em absoluto, dedicado à manutenção do templo e seus utensílios. Se observarmos o verso 5 de Malaquias 3 veremos onde repousa o coração do SENHOR:
 "E chegar-me-ei a vós para juízo, e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o jornaleiro, e pervertem o direito da viúva, e do órfão, e do estrangeiro, e não me temem, diz o SENHOR dos Exércitos."

Negando o dízimo, eles estavam negando sua responsabilidade social para com os menos favorecidos e comprometendo a continuação do trabalho dos levitas. Como está escrito em Neemias 13. 10 : "Também entendi que o quinhão dos levitas se lhes não dava, de maneira que os levitas e os cantores, que faziam a obra, tinham fugido cada um para a sua terra."

As ofertas, essas sim, poderiam ser em soma de algum metal precioso, como no caso da viúva pobre, e revertidas para o Templo. Logicamente, deveriam também cair nos bolsos também dos sacerdotes, o que não parece injusto, como descrito também em Neemias 13.5 - "...e fizera-lhe uma câmara grande, onde dantes se metiam as ofertas de manjares, o incenso, os utensílios e os dízimos do grão, do mosto e do azeite, que se ordenaram para os levitas, e cantores, e porteiros, como também a oferta alçada para os sacerdotes."
Além de tudo isso, para custear as despesas de manutenção do Templo havia um outro imposto, descrito em Mateus 17,24, o imposto anual das duas dracmas. JESUS pagou o imposto dois estáters, termo derivado do sistema monetário grego para designar uma moeda de ouro ou prata. Chama-nos a atenção as palavras do Mestre na passagem: 


24 -E, chegando eles a Cafarnaum, aproximaram-se de Pedro os que cobravam as didracmas e disseram: O vosso mestre não paga as didracmas?
25 - Disse ele: Sim. E, entrando em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra os tributos ou os impostos? Dos seus filhos ou dos alheios?
26 - Disse-lhe Pedro: Dos alheios. Disse-lhe Jesus: Logo, estão livres os filhos.

 Agora, chegamos ao fundo do nosso questionamento. Vimos que dízimos não eram somas em dinheiro e que não se destinavam a manutenção do Templo, mas para mantimento/provisão de alimentos de pobres, estrangeiros, viúvas, orfãos e também levitas. Vimos que as ofertas poderiam ser revertidas tanto para o Templo como para o custeio de vida do sacerdote, mas eram voluntárias, liberais, sem quantia definida por Lei. Vimos que havia um imposto  anual específico para a manutenção do Templo e seus utensílios, o qual JESUS só pagou para não escandalizar os judeus, dizendo ainda que os "filhos" não deveriam pagá-lo.
 O "imposto" das dracmas estava baseado em Ex. 30,11 a 16:
11  Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo:
12  Quando tomares a soma dos filhos de Israel, conforme a sua conta, cada um deles dará ao SENHOR o resgate da sua alma, quando os contares; para que não haja entre eles praga alguma, quando os contares.
13  Isto dará todo aquele que passar ao arrolamento: a metade de um siclo, segundo o siclo do santuário (este siclo é de vinte geras); a metade de um siclo é a oferta ao SENHOR.
14  Qualquer que entrar no arrolamento, de vinte anos para cima, dará a oferta ao SENHOR.
15  O rico não aumentará, e o pobre não diminuirá da metade do siclo, quando derem a oferta ao SENHOR, para fazer expiação por vossas almas.
16  E tomarás o dinheiro das expiações dos filhos de Israel e o darás ao serviço da tenda da congregação; e será para memória aos filhos de Israel diante do SENHOR, para fazer expiação por vossas almas.
 Foi reeenterpretado em Neemias 10:
32 Também sobre nós pusemos preceitos, impondo-nos cada ano a terça parte de um siclo, para o ministério da Casa do nosso Deus;
33  para os pães da proposição, e para a contínua oferta de manjares, e para o contínuo holocausto dos sábados, das luas novas, e para as festas solenes, e para as coisas sagradas, e para os sacrifícios pelo pecado, para reconciliar a Israel, e para toda a obra da Casa do nosso Deus.
 Havia alguns que interpretavam essa determinação de modo diferente como os essênios, que reivindicavam que o imposto deveria ser cobrado uma única vez em toda vida de cada pessoa e, por isso, exigiam isenção da cobrança anual. Talvez, até mesmo os cobradores de impostos tinham duvidas se JESUS pertencia aos essênios ou alguma seita do tipo, por isso a pergunta.De qualquer forma, JESUS só parece anuir com o pagamento para não criar uma situação embaraçosa ali, não exatamente para ele, mas para resguardar seus discípulos de serem considerados perigosos à religião judaica e sua principal instituição.

A cobrança anual do imposto, como ficou estabelecido em Neemias 10, não parece ser o espírito do texto de Ex. 30, pois ali vemos que o "resgate" estabelecido deveria ser cobrado por ocasião de um recenseamento do povo hebreu para o qual não é fixado uma data específica como seria de praxe, nem é dito que isto seria um estatuto perpétuo. Um exame mais acurado revelará mesmo que não se trata do mesmo imposto. O Comentário Expositivo de John Gill segue essa linha de raciocínio. Citando Aben Ezra, conhecido comentarista e erudito judeu do sec. XII, diz que a passagem de Neemias acrescenta a "terça parte de um shekel" aos demais impostos já cobrados, não sendo portanto, um mandamento divino, mas, como o próprio Neemias declara no texto, imposições que eles mesmos colocaram sobre si como responsáveis e maiores interessados na rápida restituição do funcionamento do Templo, com símbolo de que Israel ia bem.
Com o passar dos anos, a tradição criada nos tempos de  Neemias fixou-se  como o mandamento de Ex. 30, passando a ser cobrada a metade de um ciclo, ou meio shekel. Mas não há como garantir, segundo John Gill, que essa tenha sido uma prática contínua até a dominação romana. Segundo ele, é mais provável que tal interpretação se deva à ascensão recente ao poder de grupos como Saduceus e Fariseus, o que se deu por volta de 100 a.C.. Seria uma inovação doutrinária bem ao gosto daqueles senhores. Perseguir o contexto dessa história é algo fascinante e nos oferece um pano de fundo bastante vívido da narrativa bíblica.

"Há todo um tratado na Misna judaica, chamado Shekalim; em que se conta das pessoas que eram obrigadas a pagar este dinheiro, o momento e a forma de cobrança, e para que era usado;"
Segundo esse tratado, o Shekalim, "Todos são obrigados a dar o meio siclo, sacerdotes, levitas e israelitas, e os estrangeiros, ou prosélitos, e os servos que são livres, mas não as mulheres, nem os servos, nem as crianças; entretanto, se derem, receberão deles "
Outro comentarista judeu, Maimonides lança mais luzes sobre a prática:
"No primeiro dia de Adar proclamavam sobre o pagamento do siclos, que cada homem deveria preparar seu meio siclo, e estar pronto para dar-lhe no décimo quinto dia; os "cambistas" se sentavam em cada província ou cidade, e pediam suavemente; todos que lhes davam, eles a tomavam, e o que não dava, não o obrigava a dar: no vigésimo quinto, sentam-se no santuário para coletá-lo, e instar a partir de agora aqueles que não deram, até que ele o dê, e todos que não deram,e os obrigam a dar garantia (um penhor), e tomam seu penhor, mesmo que não queira, até mesmo o seu casaco."
Segundo os relatos coligidos por Gill, esses "cambistas" tinham um lucro sobre o dinheiro trocado:
"Quando um homem ia até um cambista, e trocava um siclo por duas metades de shekel, davam-lhe uma adição para o siclo, essa adição é chamada Kolbon ; portanto, quando dois homens davam um siclo por ambos, ambos eram obrigados a pagar o "Kolbon". "
Bem, isso nos dá uma idéia do porquê de JESUS não concordar com o pagamento do tal imposto do Templo. Primeiro: não era fundamento divino. Segundo: era um meio institucionalizado de rapinagem, ao qual ELE fez dura oposição ao constatar in loco aquilo que faziam no monte do Templo. Seguindo o seu raciocínio, os reis da terra cobravam tais tipos de impostos e pesadas taxas dos povos que subjugavam e escravizavam, não de seus conterrâneos, ou filhos. Em conluio com os sacerdotes, que seguramente levavam o "seu", os vendedores e cambistas já não se contentavam em vender e trocar no mercado e nas ruas, mas ocuparam o pátio dos gentios já dentro das dependencias do Monte do Templo. Lembremos o que está escrito em Ezequiel 43:
"10 Tu, pois, ó filho do homem, mostra à casa de Israel esta casa, para que se envergonhe das suas maldades; sirva-lhe ela de modelo.

11  E, envergonhando-se eles de tudo quanto fizeram, faze-lhes saber a forma desta casa, e a sua figura, e as suas saídas, e as suas entradas, e todas as suas formas, e todos os seus estatutos, e todas as suas formas, e todas as suas leis; e escreve isto aos seus olhos, para que guardem toda a sua forma e todos os seus estatutos e os cumpram.
12 Esta é a lei da casa. Sobre o cume do monte, todo o seu contorno em redor será santíssimo; eis que esta é a lei da casa."


Os fariseus e saduceus, tão zelosos e escrupulosos em fazerem-se cumpridores da Lei foram pegos numa contradição fortíssima. Como puderam deixar que animais e vendedores se instalassem como num mercado dentro dos muros de um lugar considerado "santísssimo" pela Palavra que eles mesmos tanto diziam defender? Como poderiam confrontar JESUS com tamanha demonstração de negligencia? Não é surpreendente que ninguém tenha intentado prende-lo nessa ocasião acusando-o de subversão da ordem? Não o fizeram por que sabiam que estavam errados.
Resumindo, creio que ficou claro que os dízimos ordenados se referiam ao produto da terra, entregues em espécie, para que houvesse "mantimento" dos necessitados e também dos levitas. As ofertas eram, por sua vez, voluntárias e dedicadas a manutenção do Templo e dos sacerdotes e levitas. O imposto do templo, originalmente, não era anual e nem compulsório e se tornou um fardo pesado para um povo já dominado e sobrecarregado de taxas abusivas, por que trazia consigo o peso da mão corrupta dos dirigentes do Templo, com sua luxúria financeira expressa na forma de ágio e usura para com seus irmãos.

Não pretendo discorrer sobre o dízimo de Abraão ou de Isaque porque não foram regra, mas exceção. Foram voluntários e não há qualquer indício de que o fizeram mais de uma vez em suas vidas de modo que não serviriam como exemplo nem para aqueles que acham que o dízimo é uma prática que deve ser continuada hoje em dia. Seria um argumento burro.

Agora, vamos falar sobre essa prática nas igrejas "cristãs" de hoje.

O DÍZIMO E A GRAÇA COMBINAM?

Alguém já deve ter percebido que não encontramos a palavra "dízimo" em nenhuma das cartas apostólicas que compõem o N.T. Desculpe, isto está errado. Temos sim a palavra dízimo em Hebreus 7, onde Paulo salienta a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque sobre o sacerdócio levita, os descendentes dos filhos de Abraão. Diz ainda que houve uma mudança de sacerdócio e que, por isso, faz-se necessário uma mudança da Lei que rege o sacerdócio.

O que quis dizer no início do parágrafo anterior é que não há expressa recomendação apostólica nenhuma para que o cristão entregue a décima parte de seus vencimentos para custear qualquer coisa que seja relacionada a manutenção de templos mesmo porque não houve templos cristãos até o século quarto depois de Cristo.

O dízimo é um fundamento abandonado tanto por Paulo quanto pelos outros apóstolos pelo simples motivo deles entenderem que o cristianismo não poderia reproduzir as leis relativas às leis do Templo e à Israel como nação, justamente por ser bastante diferente do judaísmo em suas práticas, destituídas de cerimonialismo, mas bem práticas, como aprenderam de JESUS, como também mais profundo no seu relacionamento e entendimento da vontade do Pai para com o mundo gentio. É como se o cristianismo, embora recém-nascido, fosse na realidade mais maduro e sábio que seu irmão mais velho, o judaísmo.

Paulo, bem como os outros apóstolos, parece ter compreendido muito bem a ruptura causada por Cristo entre eles  e o judaísmo . Na verdade, nem todos concordavam com isso. A primeira grande controvérsia do cristianismo recém inaugurado foi entre os judaizantes e aqueles que entendiam que DEUS em Cristo, os alforriou da religião judaica. Essa situação está bastante bem explicitada na primeira carta escrita por Paulo, a carta aos Gálatas. Paulo parece querer deixar claro que o cristianismo é algo bem diferente do que todos eles estavam acostumados. Ao lado da passagem correlata de Atos 15 sobre a assembléia de Jerusalem, ocasionada justamente por causa da controvérsia dos judaizantes, vemos como o cristianismo adquiriu os contornos necessários para se tornar universal e não uma seita a mais dentro do judaísmo. 

Nenhum dos apóstolos, porém, foi tão enfático como Paulo ao defender a liberdade  com a qual Cristo agraciou os que o seguem. Seus argumentos foram dos mais variados, indo da alegoria (Agar/Sinai/Jerusalem terrestre que gera filhos para o cativeiro - Gálatas 4,24) a ironia (considerando tudo que mais prezava antes como esterco para ganhar a Cristo, ainda que pudesse confiar na carne como judeu - Filipenses 3), usando até mesmo palavras duras como "ministério da morte" e "ministério da condenação" para descrever o sacerdócio levítico em II Coríntios 3, onde mais uma vez salienta a diferença entre o "transitório" e o "permanente". Para salientar ainda mais essa diferença, ele diz "Como não será de maior glória o ministério do Espírito?"

Primeiro:Está claro que Paulo não admitia usar fundamentos da A.T. relativos somente à Israel como nação e a sua cultura por que tais elementos todos giravam em torno da relação religiosa que elas possuíam com o Templo e seu cerimonial. Sem desprezar o ensino espiritual exposto no A.T.,  Paulo conseguiu separar o que era essencial para a nova dispensação daquilo que era sombra, tipo e figura de Cristo e que, a partir de então, perdera sua utilidade e perto estava do colapso. O ensino de Paulo consistia na absoluta suficiência de Cristo na vida de todos os crentes e na abolição de qualquer muleta na qual pudessem apoiar suas debilidades. Como ensinar que o dízimo era o único "sacrifício" ligado ao Templo que continuava em pé e ao mesmo tempo dizer que não se precisava mais guardar os sábados? Só mesmo numa era de confusão total como a nossa podemos ver tamanha cara de pau para ensinar isso.

A implicação de um ensino como esse estava claríssima tanto para Paulo quanto para os outros: "Todos aqueles que são das obras da Lei estão debaixo de maldição, porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as cosas que estão descritas no Livro da Lei para faze-las"
Desse modo, em todas as vezes que Paulo estimula as igrejas nas cidades  a doar, exorta-os a dar, " segundo sua prosperidade", "aquilo que propôs no coração", sem apelar a qualquer passagem de que incorreriam na ação do devorador (Ai, que medo!!!) se não dessem 10%. Quanta diferença. São poucos os textos de Paulo relacionados a isso, mas principalmente o de II cor. 9.7, exalta a liberalidade como fonte de maior Graça para os macedônios que aprenderam a exercitá-la e assim ensina aos coríntios. Não se fala em nenhum principio da Lei, nem amedronta ninguém com o tal "devorador", tornado uma entidade demoníaca física, como um exu de terreiro, para ameaçar as ovelhas, quando o SENHOR estava querendo dizer que puniria aos corruptos que sonegavam o "imposto social" do dízimo aos seus legítimos beneficiarios com perdas repentinas em suas plantações através de pragas como gafanhotos ou locustas.


O dízimo atual, cobrado nas igrejas atuais, do dízimo bíblico mesmo não tem nada, pois este se destinava a distribuir a riqueza de uma nação gerando justiça social e não era usado na implementação de novos templos, pois só havia um, e nem mesmo na construção de sinagogas. A construção e estruturação do(s) Templo(s) de Jerusalem, tanto na época de Salomão quanto na de Esdras e também na sua última versão, acabada em 64 d.C. pela dinastia herodiana, foram subsidiadas pelos cofres dos governantes (Davi/Salomão; Ciro/Dario e HerodesI/Herodes Agripa, respectivamente). 
É preciso que se tenha em mente que estamos falando da prática do dízimo no N.T. e ainda não falamos sobre as passagens em que Paulo cita mandamentos do SENHOR para que os "ministros" em tempo integral, ou servos/escravos no original, sejam sustentados pela comunidade. São algumas passagens bastante relevantes, sem dúvida. Todo o capítulo 9 de I Cor. é relevante para contextualizar o caso, mas vamos ficar como verso 14: 

" Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho."
As mesmas disposições podem ser vistas em I Timóteo 5.18: 
" Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário."
O ultimo verso é uma importante citação direta de Lucas 10.7, e isto prova que Paulo já fazia uso de tal texto reconhecendo-o como "Escritura Sagrada" já em sua época. 
No verso anterior de I Timóteo 5 lemos:
17 Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina.

Algumas versões apresentam a tradução "duplos honorários", o que estimularia a pensar que havia alguma espécie de "salário clerical". Creio que isso trai o sentido do texto, embora eu tenha que discordar do Frank Viola, como exposto em "Cristianismo Pagão", pois o contexto da passagem nos obriga a pensar em sustento ao "servo". O contexto ideal traz a idéia de sustento e amparo material ao trabalhador da obra deDEUS em tempo integral, como o próprio Paulo fala que recebeu "em abundancia" da parte dos filipenses através da pessoa de Epafrodito, certamente enquanto estava preso ou passando por dificuldades (Filipenses 4.18). 

Para mim, o contexto é claro: os que se dedicavam em tempo integral do cuidado espiritual das comunidades e seus muitos afazeres, como cuidar de viúvas, orfãos e doentes, além do ensino da Palavra, muitas vezes precisando viajar para plantar ou consolidar igrejas, como no caso de Timóteo e Tito, deveriam ser honrados de forma especial tendo suas dificuldades materiais supridas para que não se vissem distraídos do propósito original. Ser um presbítero, ou ancião, ou mesmo apóstolo  exigiam mais do que vontade, exigiam chamado para sofrer necessidades e não ter salário fixo e ser amparado por uma comunidade formada em sua maioria pelas pessoas mais pobres da localidade. Embora Paulo trate do sustento do ministro como ordem do SENHOR à igreja, ele o faz sem usar o peso da Lei e enfatiza a importância do seu trabalho árduo tanto como apóstolo como no trabalho manual que lhe garantia alguma renda, demonstrando que alguns já poderiam estar se beneficiando indevidamente de sua posição perante a congregação. Sejamos claros aqui: Quem não duvida do homem que vive do dinheiro dos outros, seja politico ou religioso? Paulo queria salientar a importancia do obreiro do Evangelo não ser causa de escândalo por estar fazendo "corpo mole" enquanto todos os outros suavam para que ele tivesse boa vida, mas ele não julgaria os que assim procedessem. Todavia, prescrevia que TODOS deveriam trabalhar como ele e que quem quer obter "posição de destaque"  deve trabalhar muito mais.
Segundo Viola em "Cristianismo Pagão", a primeira menção ao dízimo só viria dois séculos depois com Cipriano e causou estranheza porque antes dele nenhum escritor cristão havia se referido ao assunto como uma regra para a nova Aliança. Ainda segundo as pesquisas de Viola e George Barna, o dízimo sequer foi mencionado nos primeiro setecentos anos de cristianismo. A história de como ele veio a ser usado novamente no meio cristão tem mais a ver com a crescente aproximação entre igreja e o Império Romano a partir do século IV e a adoção gradual de práticas cada vez mais parecidas com as do V.T. e até mesmo fundamentos pagãos. É certo, porém, que, pelo final do século X, o dízimo já era um imposto obrigatório para sustentar a Igreja Estatal. 


PORTANTO, O DÍZIMO COMO FUNDAMENTO DA LEI, É CONTRÁRIO AO ESPÍRITO DA GRAÇA QUE DEVERIA SER O MOTOR DA IGREJA.

O DÍZIMO E A SITUAÇÃO DAS IGREJAS DE HOJE / O DÍZIMO COMO TERMÔMETRO ESPIRITUAL

Vimos o quanto o dízimo atual difere em sua natureza do dízimo prescrito na Lei, pois este era um tipo de "imposto social" da nação de Israel e estritamente ligado ao Templo e aos levitas. Os apóstolos dividiram muito bem as coisas, separando a cultura de Israel da Igreja de Cristo. Não há menção de ordem apostólica alguma para que as pessoas "dizimem" na Nova Aliança, pois nela não há levitas nem Templo...Ops! Temos um problema aqui. Na época de Cristo até o século IV não houve necessidade de se falar em Igreja como um edifício ao qual nos dirigimos para participar de um evento, mas hoje em dia...

Já falamos aqui da facilidade que se tem pra abrir uma "benção" nesse país. O sujeito vai, aprende algo do Evangelho, reúne seus "comparsas", digo irmãos, paga as taxas devidas e sai a procura de um lugar que será o....TEMPLO da "Benção". Pronto, já  temos aqui mais um fundamento veterotestamentário. Reeditando o templo, reeditamos as leis do templo. Há uma lógica atroz nisso, pois o sujeito parece atraído por um pensamento que parece uma revelação e toda aquela idéia daquilo que representou o tabernáculo de Moisés e o Templo de Salomão, com sua grandeza e glória, vem à tona na sua mente. E ele vai e se coloca no lugar de um sumo-sacerdote, pronto a sacrificar as ovelhas, espargir sangue e adentrar em meio à fumaça no Santo dos Santos. Basta ver como os lideres dos ministérios se colocam diante do povo. Se colocam como mediadores levíticos exatamente como se fazia antigamente. São "ungidos' para aquilo, são de classe diferente. 

Nas Assembléias de DEUS eles se assentam atrás do púlpito e catalisam toda atenção. Quem já não ouviu um desses "grandes nomes" como RR Soares ou Valdemiro Santiago falar que estarão fazendo "isso ou aquilo" pelo povo de DEUS, orando, jejuando ou subindo ao monte para levar suas petições ao conhecimento do SENHOR? Quem duvida que estamos vivendo em tempos de Lei e não da GRAÇA basta dar uma olhada
nessa campanha da IURD. Vim de uma denominação neo-pentecostal e o costume ali, todo domingo, era de chamar o "rebanho" a frente para receber oração dos "ministros separados". Eu era um desses "ministros". Comecei a me sentir mal pois vi que isso nos dividia em duas classes, leigos e ministros. As mesmas pessoas sempre vinham para receber e pareciam pensar que essa era sua porção ali mesmo tendo muitas vezes mais tempo que eu de "casa". 

Certa vez, um "apóstolo" trouxe um revelação genial para nós: Além das ofertas alçadas e dos dízimos, ele descobriu que poderíamos ser ainda mais abençoados se praticássemos o princípio das "primícias", como descrito em Levítico 23:10 : "Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra, que vos dou, e segardes a sua messe, então, trareis um molho das primícias da vossa messe ao sacerdote";Levítico 23:20 : "Então, o sacerdote os moverá, com o pão das primícias, por oferta movida perante o SENHOR, com os dois cordeiros; santos serão ao SENHOR, para o uso do sacerdote". A maioria achou genial e não sabiam como podiam ter vivido se essa "revelação". Note que Levitico 23.20 faz menção ao recebimento por parte do sacerdote e que este moveria a primícia diante do SENHOR para favorecer o ofertante. A regra deveria ser obedecida e o "apóstolo" (só eles poderiam receber tal oferta) deveria mover a oferta abanando-a nos ares ao orar pelo indivíduo, antes de mete-la no bolso, afinal, o verso declara que a primícia é "para o uso do sacerdote".  Qual a intenção por detrás disso? Seria para gerar algo novo financeiramente em sua vida. Essa inovação já chegou na sua área? Fique atento por que algum "apóstolo" pode estar chegando por aí com ela a tiracolo como a grande sacada para você prosperar.

Observe como um fundamento totalmente alheio ao Evangelho da Nova Aliança pode ser aceito até mesmo entre aqueles que dizem simbolizar a vinda de um novo tempo para a Igreja. Apóstolos e profetas recebendo ofertas como sacerdotes levíticos...Onde ficou o sacerdócio de Melquisedeque mesmo? 

O dízimo atualmente praticado é também uma poderosa ferramenta de controle nas mãos dos dirigentes. Ele  pode e é usado como termômetro da congregação. A grande maioria possui um controle rígido de  quem são os "dizimistas fiéis" do local. Quem "dizima" sempre é fiel. Quem não é registrado nessa lista, está condenado ao ostracismo. Se tem "aspirações espirituais" a certas posições eclesiasticas só conseguirá chegar lá se for um dos "fiéis". 

O dízimo é fundamentado no medo, não no Amor a DEUS e ao próximo, embora a maioria afirme o contrário.  Medo do devorador, medo de roubar a DEUS. Com efeito, pois a Lei traz esse peso, o medo da pena daquele que está roubando a DEUS e sua Casa. Mais do que isso, a "igreja" não percebe que não consegue operar estritamente na Graça de DEUS mas se tornou um ambiente da Lei, onde as pessoas valem pelo que fazem aos olhos dos outros, pelo seu funcionalismo na hora do "ritual". 

Com a vida espiritual de pessoas e ministérios girando em torno do Templo e seu imposto, o dízimo, as pessoas são subliminarmente influenciadas a pensar que quantias maiores de dinheiro seriam desejáveis para viabilizar projetos e programas que visam a expansão do "ministério", ou seja, um templo maior e com mais almas agregadas. 
Tudo se passa como num empreendimento comercial onde o capital é essencial para que aja "giro" nos negócios. Sem dinheiro para investir, o negócio trava. Não foram poucas as vezes em que ouvi que o Reino não estava avançando porque as pessoas não eram liberais com suas finanças. Fico pensando em como o cristianismo chegou a ser o que foi na Antiguidade, se espalhando como rastilho de pólvora sem ajuda de ferramentas como rádio  e televisão e sem um único templo próprio para abrigar  os milhares de seres que se converteram pela pregação dos apóstolos. 


Nós optamos pela saída simplista e que quase não nos custa nada, pelo menos aparentemente. Basta abrir um ponto fixo e deixar que as pessoas venham e despejar sobre elas versos violentados do seu contexto bíblico. Os famintos espirituais virão e desejarão alimento. Por algum tempo se satisfarão, mas muitos morrerão de inanição. O tempo passa e as coisas não mudam. Estagnação espiritual. Atrofia dos membros. Apatia melancólica. A mudança não vem, não importa o quanto se pregue, e se façam mais campanhas, programas e eventos, não há indícios de um mover de frescor. O ar continua pesado e parado. Por que?

Por que há maldição. Maldição por ter misturado princípios da Lei com o fermento farisaico da interpretação própria. A "igreja" atual está doente, enferma, e não há ninguém que dê o diagnóstico correto e, assim, o antídoto para tanto veneno fariseu em suas veias. 

Acontece com o dízimo, aquilo que acontece a uma pessoa que descobre que a questão do uso de certos tipos de roupa (uso e constume), uma questão bastante espinhosa no Brasil há pouco tempo, são mais uma interpretação pessoal ao gosto dos legalistas de plantão, que só querem cuidar da vida alheia, do que uma orientação espiritual sã. Conheço pessoas que quase foram destruidas por isso. Todas as heresias são fundamentadas em poucas passagens bíblicas.  
O dízimo atual não é o dízimo bíblico, nem mesmo se assemelha a ele. Mas se tornou um ensino essencial pelas prioridades eleitas pelos homens que estão a frente do rebanho. Ele se assemelha mais ao chamado "imposto do Templo" , o Shekalim, que vimos anteriormente. Vimos que JESUS era contrário a essa cobrança, porque era fruto da interpretação de alguns de um texto bíblico obscuro, uma invenção doutrinária. 

Como tudo que traz unicamente a mão do homem e sua mente perversa, o imposto do Templo só causou mais peso a um povo já combalido, mais ganância aos que presidiam o Templo e corrupção àquilo que deveria ser santíssimo. 

Devemos prosseguir o  espírito reformista e limpar tudo aquilo que o homem edificou sobre o Fundamento da Casa de DEUS, aplanando o terreno até podermos ver a Pedra de Esquina. Só o faremos se lançarmos fora todas as pedras falsas e não aceitarmos edificar NUNCA MAIS sobre elas. 

Essa matéria não visa outra coisa senão a edificação do Corpo de Cristo e o restabelecimento da Verdade entre aqueles que seguem O CAMINHO. Não viso destratar ninguém, mas simplesmente externar a visão mais pura possível da Noiva do Cordeiro, como creio que Ele me concedeu.

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